A Unimontes Invisível
No poema “Prece de Mineiro no Rio”, de Carlos Drummond de Andrade, há a invocação a uma pátria distante, a um “Espírito de Minas” que, cantado, restaura a ordem e a lucidez na vida do sujeito poético e que ecoa, além do som, o sentimento de “mineirice”, de “mineiridade” para além do tempo, para além das montanhas. Na Minas Gerais de hoje, o “Espírito de Minas” foi morto e foram criadas várias Minas invisíveis que existem apenas nas fantasias e farsas políticas do Governo do Estado. Um exemplo dessa Minas Invisível, distorcida e manipulada, é a Universidade Estadual de Montes Claros. A propaganda governista criou uma Unimontes Invisível, que se distancia, assustadoramente, da Unimontes Visível, real.
Na Unimontes visível a infra-estrutura é caótica. Na Unimontes visível, as carreiras docentes e técnico-administrativas agonizam, à mercê de baixos salários e de ínfimas condições de trabalho. Na Unimontes visível, os discentes não são apoiados por ações públicas efetivas, que proporcionem o mínimo de condições para exercerem suas atividades acadêmicas. Na Unimontes visível, prevalece o descaso, o desrespeito e o abandono. A Unimontes visível é fragmentada pela palavra ausência. Há uma ausência no verbo agir e sobram bazófias, e bazófias, e mais bazófias. Há uma ausência que se distancia, completamente, do “Espírito de Minas”. Essa ausência retira de nós, todos nós, o sentimento de “mineirice”, de “mineiridade”, causando-nos um imenso nó na garganta.
Mas, como diz Fernando Sabino, mineiro “não conversa, confabula”. Então, confabulamos para restaurar a ordem e a lucidez à Unimontes. Lutaremos, de corpo e alma, para que esta Universidade seja um lugar melhor, muito melhor. Por isso, a luta para uma Unimontes melhor não é apenas dos alunos, dos professores e dos funcionários técnico-administrativos, mas de todos os cidadãos mineiros e, sobretudo, norte-mineiros. Não podemos aceitar que esta Unimontes que ninguém vê seja instrumento de marketing, deixando a Unimontes real às moscas e às escuras.
A Unimontes é nosso patrimônio e merece respeito. Aceitar, portanto, a Unimontes Invisível é louvar o inexistente e ser omisso perante a farsa. Na verdade, o que está em jogo não são apenas reivindicações justíssimas, é bem verdade, de cada categoria, mas também o futuro da Universidade Estadual de Montes Claros. Silenciar-se agora é sepultar, de vez, a história, a função social e o compromisso educacional da única Universidade genuinamente pública mineira, mantida pelo Governo do Estado. É hora de “botar o bloco na rua”, é “hora de botar a boca no trombone”, é hora de superar velhas oligarquias e arcaicas trapaças. É hora de enxergar que a Unimontes possui problemas, sérios problemas, que não podem esperar para serem resolvidos. É hora de lutar, juntos, para que a Unimontes visível surja, além, muito além dos olhos dos Reis que veem somente o próprio umbigo. É hora de invocarmos o “Espírito de Minas” para que ele ecoe na Unimontes, levando-a para além, muito mais além das montanhas.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
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